Não bastassem as duras restrições às atividades econômicas, diante da escalada de casos e mortes por Covid, alguns setores produtivos e do comércio sofrem ainda mais em razão de dois agravantes: a alta dos preços e a falta de matéria prima. É o caso do ramo de móveis para casa e escritório, que amarga grande queda de estoques e assiste a uma significativa redução do consumo, tanto pelo encarecimento das mercadorias quanto pelo prazo alongado das entregas.
De acordo com Gustavo Ladeira, diretor de Tecnologia do Sindimóveis-MG, que reúne mais de 150 produtores associados na Grande BH e em outras cidades do Estado – no qual a indústria abrange 3 mil empresas e cerca de 20 mil trabalhadores –, a encomenda de insumos como tecidos, chapas de MDF, MDP e demais derivados de madeira tem demorado 50% a mais, em relação ao que ocorria no ano passado.
“A compra de matéria prima que a fábrica faz e que levava, por exemplo, 40 dias para entregar, hoje leva 60. E esse aumento de prazo vale tanto para a produção quanto para que o produto chegue à loja e ao consumidor”, afirma o dirigente, ele mesmo dono da Neobox, fábrica de móveis situada no Jardim Canadá, em Nova Lima. “ Há casos em que simplesmente não se encontra um determinado insumo (como alguns tecidos ou MDFs de determinada cor) e é preciso tirar itens de linha”, acrescenta.
Em relação aos preços tanto da matéria prima quanto dos produtos acabados, a subida foi de 40% a 50%, dependendo do item, desde o início do segundo semestre de 2020. A equação para explicar valores mais salgados para os clientes, diz Ladeira, é a mesma que elucida a escassez de alguns estoques em fábricas e lojas locais: a demanda elevada por tais produtos no exterior e o dólar alto fazem com que fornecedores prefiram exportar a abastecer o mercado interno.
Para os lojistas, a situação tem se tornado cada vez mais crítica. Segundo Dalson de Paula Souza, dono da Office-A, especializada em móveis para escritórios e uma das dezenas de lojas do ramo na avenida Silviano Brandão, região Leste da capital, a tendência é de quebradeira no segmento. “Se não bastasse essa ditadura que estamos vivendo, com tudo fechado e sem poder fisicamente a clientela, os preços que subiram 50% desde agosto e os prazos de entrega cada vez mais extensos estão matando nossos negócios”, destaca ele.
Souza, que, com as portas abaixadas, dispensou quatro e deu férias a oito dos 16 colaboradores que tinha até 2020, diz que ao menos 50 dos 250 estabelecimentos de móveis da avenida não devem reabrir. “Estamos falando de um pólo da cidade que gera arrecadação de R$ 8 milhões só em ICMS e concentra mais de 7 mil empregos diretos e indiretos”, ressalta.